EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR É EFICAZ NO COMBATE À OBESIDADE?
- Renato Bianchini & Santiago Paes
- 27 de set. de 2016
- 3 min de leitura

No dia 22 de Setembro, o Governo Federal apresentou uma Medida Provisória em que a disciplina de Educação Física deixa de ser obrigatória para alunos de ensino médio. Os impactos sociais, psicológicos, culturais e profissionais não serão discutidos aqui, porém a questão física vale a pena uma reflexão dentro do contexto científico.
Após o ocorrido, o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) se posicionou radicalmente contra a Medida Provisória, alegando que a educação física escolar seria a medida mais eficaz para o combate a obesidade infanto-juvenil.
Ouvimos muitas críticas sobre o argumento, pois ele realmente deixa de lado diversas facetas que envolvem a Educação Física Escolar, porém a preocupação são os profissionais questionarem a eficácia das aulas de educação física no combate a obesidade.
Essa preocupação não é novidade, pois cada vez mais profissionais “embasados em conhecimento científico” chegam a conclusões totalmente precipitadas por descartar qualquer coisa que não tenha diferença estatisticamente significativa. O que isso gera:
1. Uma generalização absurda do tipo se A é melhor que B, então B não serve para nada.
2. Desconsideração de diversas variáveis que não estarão nos livros de fisiologia. Ciência é a base de um bom profissional, mas o profissional de excelência entende que a vida não é um laboratório.
3. O pensamento de que se o indivíduo não perdeu pelo menos 0,1% gordura corporal de nada adiantou.
Então fica a questão, educação física escolar é eficaz no combate a obesidade?
A primeira coisa é o velho conceito ultrapassado de que a obesidade é uma doença predominantemente energética em que é gerada a partir do consumo demasiado de energia em detrimento da falta de gasto energético. Existem diversos fatores associados ao ganho de peso ( inflamação e desequilíbrio hormonal e imune são componentes deletérios proeminentes para o desencadeamento crônico fisiopatológico).
A partir daí, é compreensível porém não aceitável, a idéia de que aumentar o gasto energético reduzirá o peso corporal durante aulas de educação física escolar. Todavia, o baixo número de aulas semanais não irá desencadear isso. Mais uma vez a visão reducionista de um problema complexo, leva a diagnósticos precipitados.
Nosso corpo é um constructo biopsicossocial, no qual não somente aspectos fisiológicos são imputados ao desenvolvimento e crescimento do sujeito. Precisamos nos relacionar com nossa espécie ( sociedade), copular ( perpetuação da espécie), raciocinar (inteligência/cognição), entender e sentir (psicológico) e agir (ação motora).
Outra condição sine qua non, é que isso seja estimulado ao longo da vida, principalmente em períodos iniciais, infância e adolescência. É nessa fase que o corpo começa a desenvolver sinais para determinar como nossos sistemas fisiológicos e metabólicos irão funcionar com o passar dos anos. É como se através de nossas ações, emoções e alimentação, ditássemos o quanto nosso DNA precisará ativar seu comando para fazer proteínas para o ganho ou perda de peso. Isso se chama programação metabólica ativada por agentes epigenéticos.
E a prática de exercícios físicos e psicomotricidade é um dos principais mediadores desses sinais. Impulsos esses que programarão no decorrer da vida o quanto eficaz será nosso metabolismo. É por isso, que uma criança obesa durante a infância e adolescência programa negativamente seu metabolismo para propagar essa condição quando se torna adulta. Isso justifica o porquê a adoção do estilo de vida saudável, deve ser ensinado a mente e ao corpo nesses períodos, considerados potencializadores desse efeito genético.
Outro aspecto de suma importância é a aderência a esse estilo. Uma pessoa, que foi alvo de chacotas ou negligenciada como amigo (Lembrou daquele seu amigo que era ruim de bola ou mais lento por possuir mais peso corporal?) Então, sem a presença do professor de educação física para mediar e construir práticas corporais inclusivas, isso provavelmente irá repercurtir negativamente no psicológico das crianças que eram excluídas por conta do alto peso corporal ou baixa aptidão motora.
Aptidão motora, que é comprovadamente um dos fatores físicos relacionados ao ganho cognitivo. Indivíduos fisicamente ativos durante a infância apresentam maior capacidade de desenvolvimento cognitivo tanto na vida adulta quanto na senescência.
Ou seja comportamentalmente o ambiente é um profundo modulador das adaptações neurocognitivas, psicofisiologicas, anatomocinesiológicas e é claro socioculturais.
Então se você ainda questiona se a educação física escolar do ensino médio é eficaz no combate a obesidade (por ser apenas duas aulas de 50 minutos e isso não ser suficiente para emagrecer), entenda que a solução da obesidade não é uma conta de subtração.
(Renato Bianchini & Santiago Paes)
Paes, S. T., Marins, J. C. B., & Andreazzi, A. E. (2015). Metabolic effects of exercise on childhood obesity: a current view. Revista Paulista de Pediatria, 33(1), 122-129.
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