COMER DE 3 EM 3 HORAS? PRA QUÊ?
- Santiago Paes
- 25 de jun. de 2016
- 4 min de leitura

Muitos estudos apontam que comer de 3 em 3 horas não é capaz de promover aumento da atividade metabólica do corpo, haja visto que outros fatores são comprovadamente pivôs nesse processo ( atividade hormonal, atividade física, efeito termogênico dos alimentos, composição corporal) e não o possível aumento do número de refeições ao longo do dia [1,2,3,4,5]. Contudo, um estudo que acaba de ser publicado vem chamando atenção pelo resultado apresentado [6], nele os pesquisadores compararam o efeito de se realizar 6 versus 3 a 9 refeições/dia (nos mesmos horários) entre mulheres saudáveis durante 14 dias. Os resultados mostraram que não houve nenhuma diferença na composição corporal, perfil lipídico ou nos hormônios que controlam fome, saciedade e apetite (Grelina, GLP-1 e PYY). Contudo, interessantemente, o grupo das mulheres que fizeram 6 refeições/dia ( 3 em 3 horas), apresentou maiores valores de efeito térmico dos alimentos e também menores valores de glicose plasmática, esse último um bom marcador para o risco de diabetes. Não entrando no mérito de se tratar de um estudo de 14 dias, efeito termogênico dos alimentos ser o menor fator metabólico entre os 3 principais ( taxa metabólica de repouso até 60% e exercício físico 30% do metabolismo de repouso) tampouco a glicose plasmática não ser correlacionada com os valores de hemoglobina glicada ( melhor marcador do comportamento glicêmico), os resultados são bem interessantes do ponto de vista de possíveis manejos dietéticos em prol da aderência a hábitos alimentares saudáveis. Em contrapartida, um estudo publicado na revista diabetologia (expressiva revista do gênero) demonstrou que comer apenas o café da manhã e o almoço, apresenta maior efetividade no controle glicêmico e que esta pode ser uma conduta mais indicada para a redução da glicemia de jejum que fazer maiores refeições, no caso 6. Uma das justificativas, seria a melhora da sensibilidade hormonal principalmente de insulina, glucagon e peptídeo-c, mas salienta-se que esse estudo foi feito com diabéticos. Entretanto, tendo em vista a relação da estratificação das refeições e metabolismo os achados são intrigantes. Bom, por outro lado, aquele que relata que comer de 3 em 3 horas, ou qualquer estratégia dietética relacionada a estratificação do número de refeições em prol da alteração do comportamento metabólico de nosso corpo,citamos:
Um estudo que avaliou 30 voluntárias que fizeram uma dieta restritiva e hipocalórica durante 3 dias. Variáveis diretas relacionadas ao metabolismo foram “trocadas” pela avaliação da taxa metabólica basal. Resultado? Em 3 dias de restrição calórica severa, não houve modificação da taxa metabólica basal. Restrição calórica aguda, mesmo severa, não "desacelera" o metabolismo, ou seja, não foi capaz de modular o funcionamento metabólico do corpo [2]. Outro estudo, avaliou 16 voluntários, 8 homens e 8 mulheres, submetidos a jejum em dias alternados, ou seja, dieta normal em um dia, e jejum no outro dia, por 22 dias consecutivos. Segundo o senso comum nutricional, seu metabolismo deveria ficar muito mais lento com todo esse jejum, e mais lento ainda nos dias de jejum quando comparado aos dias de alimentação normal. Não foi o que aconteceu. A taxa metabólica em repouso não mudou do início ao fim do estudo, ou de dias alimentados para dias em jejum. Nem mesmo a temperatura do corpo mudou. Não estamos falando em pular uma refeição, estamos falando em pular todas as refeições por 24 horas.[3] Além desses supracitados, outro estudo avaliou o efeito do jejum de 12, 36 e 72 horas, entre os quais diversos marcadores fisiológicos foram medidos num dado grupo composto de homens e mulheres. Como resultado, foi observado um aumento da taxa metabólica basal. Veja bem, essas pessoas não estavam comendo a cada 3 horas, estavam comendo a cada 3 dias! Ainda assim, o metabolismo basal não foi reduzido, muito pelo contrário ele aumentou.[4] Para finalizar (UFA!!) Temos 10 voluntários do sexo masculino que foram alimentados com comida suficiente para atingir suas necessidades calóricas diárias, e depois disso foram submetidos alternadamente a uma alimentação dividida em apenas duas refeições por dia ou dividida em sete refeições por dia. O resultado? A frequência da alimentação não afetou em nada a taxa metabólica basal ou o gasto energético total dos indivíduos.[5]
1.Bellisle F, McDevitt R, Prentice AM. Meal frequency and energy balance. Br J Nutr. 1997 Apr;77 Suppl 1:S57-70. 2.Keim NL, Horn WF. Restrained eating behavior and the metabolic response to dietary energy restriction in women. Obes Res. 2004 Jan;12(1):141-9. 3. Leonie K Heilbronn et al. Alternate-day fasting in nonobese subjects: effects on body weight, body composition, and energy metabolism. Am J Clin Nutr 2005 vol. 81 no. 1 69-73 4. Webber J, Macdonald IA. The cardiovascular, metabolic and hormonal changes accompanying acute starvation in men and women. Br J Nutr. 1994 Mar;71(3):437-47. 5. Verboeket-van de Venne WP, Westerterp KR, Kester AD Effect of the pattern of food intake on human energy metabolism. Br J Nutr. 1993 Jul;70(1):103-15. 6. Maha H Alhussain et al. Irregular meal-pattern effects on energy expenditure, metabolism, and appetite regulation: a randomized controlled trial in healthy normal-weight women. Am J Clin Nutr, 2016. 7. Hana Kahleova et al. Eating two larger meals a day (breakfast and lunch) is more effective than six smaller meals in a reduced-energy regimen for patients with type 2 diabetes: a randomised crossover study. Diabetologia, 2014.
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